“Nós somos tão esquecidos aqui. E vocês sempre se lembram da gente.” Estas são as palavras que acompanham os olhos cheios de lágrimas de uma das assentadas, no momento em que abrimos as portas da nova Sala Criativa que inauguramos para as crianças na sede do assentamento Eldorado dos Carajás. Palavras que entram em nossa mente e, digo até, nos fazem encher o peito. Não de algo tão bobo como orgulho, mas um sentimento de satisfação certeiro de que o trabalho que realizamos com esse pessoal com certeza vale à pena.
Tudo aconteceu no sábado, dia 31 de maio, em nossa última Seresteira realizada com nossos amigos do campo. Um sarau diferenciado, que reúne o campo e a cidade, num misto de música, teatro e poesia, buscando levar a eles um pouco de nossa cultura, mas principalmente, deixar que eles se manifestem quanto a seus próprios ideais.
O tema da peça do dia, apresentada por nosso grupo, era mais que chamativo. “A Luta da Terra do Nunca”. Fazendo alusão ao clássico infantil tão bem conhecido do garoto que jamais envelhece, a ideia do roteirista João Barão buscava retratar de forma lúdica a tal luta pela terra desta comunidade que nunca termina. Peter Pan surgiu na história como a representação de um sonho. O simbólico ideal da resistência a uma sociedade opressora. Um amigo alegre e sorridente que traz aos Meninos Perdidos a ideia de que é possível lutar por direitos igualitários. Meninos Perdidos estes que, como personagens da peça, retratam perfeitamente o desamparo em que os assentados são deixados a mercê da sociedade.